Uma morte que, pela forma como foi explorada, iria mudar a história da Paraíba e do Brasil, servindo para deflagrar a Revolução de 1930.
É muito rica de história a imagem que ilustra esta matéria, datada do dia 28 de julho de 1930. A foto é da Associação Nacional de História (Anpuh), seção Paraíba. Nela o que se vê é a população da então cidade de Parahyba aguardando a chegada do corpo do presidente do Estado, João Pessoa, assassinado dois dias antes na cidade do Recife.
Uma morte que, pela forma como foi explorada, iria mudar a história da Paraíba e do Brasil, servindo para deflagrar a chamada Revolução de 1930. Foi quando Getúlio Vargas, derrotado na eleição presidencial daquele ano, com João Pessoa na condição de vice, conseguiu, a partir de um incomparável estado de comoção nacional, desferir um golpe, com invólucro revolucionário antioligárquico, assumir o poder, no lugar do paulista Júlio Prestes vencedor do pleito, derrubar de uma só vez a política do café com leite (onde os presidentes sucessivamente representavam os interesses de São Paulo e de Rio de Janeiro) e a Velha República, e inaugurar o Estado Novo.
A morte, apresentada como fruto de ardil político, acabou servindo de estopim para a rebelião nacional, que começou em outubro do mesmo ano nos estados de Parahyba do Norte, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e terminou levando Getúlio a governar o país por 15 anos, de 1930 a 1945, sete deles estruturado em uma ditadura.
O corpo do ex-presidente chegou à Estação Ferroviária do Varadouro, justamente a imagem da foto, que na época ficava em frente à Praça Álvaro Machado, por volta das 12hs40min, portanto, sob sol fortíssimo. As residências e casas de comércio, inteiramente fechado, no caminho, portavam bandeiras pretas de luto. Aliás, todas as casas da cidade, do centro aos arrabaldes, conforme A União, marcaram luto na parede da frente.
Milhares de pessoas permaneceram no local por horas, enquanto o trem, vindo de Itabaiana, trazia o corpo de João Pessoa, com manifestações e paradas por onde passava (Espírito Santo, Santa Rita). Antes disso, no caminho do Recife até Itabaiana, em outro comboio ferroviário, o corpo, em um carro fúnebre instalado no trem, parou em várias estações do interior pernambucano, com fortes manifestações, segundo descreve matéria de A União, datada da terça-feira, 29 de julho de 1930.
Segundo o jornal oficial paraibano, na capital do estado, o cortejo, sempre acompanhado de gente chorando e portando traje de luto ou fumo no peito, seguiu da Praça Álvaro Machado pela Visconde de Inhaúma (no trecho que hoje tem o nome do ex-presidente João Suassuna, assassinado em decorrência da morte de João Pessoa), pegando a Maciel Pinheiro e dobrando na Barão do Triunfo, para então subir pela Avenida Central (atual Guedes Pereira), dobrar na Duque de Caxias, virar na Peregrino de Carvalho (em frente à Igreja da Misericódia), entrando na General Osório para chegar à Catedral de Nossa Senhora das Neves, onde permaneceu em câmara ardente até a sexta-feira 1 de agosto.
Daí foi reconduzido à Estação Ferroviária, pelo mesmo caminho por onde chegou à Catedral, tomando o rumo de Cabedelo, onde embarcou para o Rio de Janeiro, parando em cada porto de capital no trajeto, para manifestações. O esquife chegou ao Rio de Janeiro em 7 de agosto, sendo sepultado dois dias depois, uma sexta-feira, 9 de agosto, no Cemitério São João Batista, 14 dias após o assassinato, com participação de dezenas de milhares de pessoas. 67 anos depois, no início de agosto de 1997, o corpo de João Pessoa foi enfim transferido do Rio de Janeiro para a capital paraibana, onde se encontra sepultado nos jardins do Palácio da Redenção, prédio que vai virar museu.
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