Irmãos de Nova Olinda acharam a rocha espacial em 2014, mas ela só foi classificada oficialmente no último sábado (19).
“Neste dia, passando por uma determinada área do terreno, no fundo enlameado do açude seco, o aparelho disparou muito forte, bem diferente de quando encontramos alguma pepita. Na mesma hora, pegamos a picareta e começamos a cavar”, conta Edsom.
Segundo o joalheiro, o detector só disparava quando era colocado próximo a uma pedra que estava cheia de barro. “Quanto mais a gente encostava o detector, mais apitava. Então resolvemos retirar a pedra e lavar para identificar. Era uma pedra totalmente brilhosa”, diz.
Os irmãos então levaram a pedra para a casa da fazenda de Edsom.
“Eu falei para meu irmão: ‘é muito bonito, mas não é ouro. Vamos colocar em cima da mesa e usar como enfeite’”.
Ao longo de quase seis anos, o objeto ficou exposto no local, sem levantar a desconfiança nem dos irmãos, nem de amigos e parentes, de que se tratava de uma rocha espacial.
“Algumas pessoas pegaram para ver, acharam que era chumbo, por ser pequeno e pesado, mas nunca imaginamos que era um meteorito”.
Chuva de pedras em Pernambuco
As coisas começaram a mudar em agosto de 2020, quando uma chuva de pedras atingiu a cidade de Santa Filomena, em Pernambuco, e atraiu a atenção de caçadores de meteoritos. Com a repercussão do caso, Edsom achou que a rocha dele também pudesse ser um meteorito.
Já morando em Salvador, onde reside atualmente, Edsom ligou para o irmão, na Paraíba, e disse que desconfiava do achado. “Ao ver as imagens lá de Pernambuco eu achei uma semelhança com a rocha que achamos, porque eram pedras pequenas e muito pesadas. Fiz pesquisas na internet para encontrar cientistas que estudam os meteoritos até que consegui o contato de André Moutinho, que além de pesquisador, é colecionador de meteoritos”, diz o joalheiro.
Moutinho orientou o homem a realizar os primeiros testes e, com a possibilidade de ser realmente uma rocha espacial, uma amostra foi retirada e enviada para São Paulo, onde André Moutinho confirmou que se tratava de um meteorito. A partir de então, entrou em contato com pesquisadores para a realização das análises física, química e petrográfica para classificação do meteorito (saiba mais no final da reportagem).
“A classificação só saiu agora em 2022, após mais de um ano de muito trabalho e de muito gasto”, avalia Edsom. O meteorito Nova Olinda agora está no Rio de Janeiro, em um cofre particular de um apartamento do paraibano. O interesse dos irmãos é de que a rocha seja comprada pelo Governo da Paraíba para que ela fique no estado, uma vez que compradores de outros estados e até internacionais já deram lances por ela.
“Queremos que fique na Paraíba por dois motivos: primeiro porque o meteorito foi achado aqui no estado; e segundo porque isso vai estimular o desenvolvimento da ciência. É importante para os estudantes terem acesso a achados como esse aqui no estado, sem precisar viajar para outros países para pesquisar”, conta.
O que diz o Governo da Paraíba?
Em nota enviada à imprensa por volta das 9h desta terça-feira (22), a Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT) da Paraíba esclarece que "não recebeu contatos para promover audiência para debater o tema, mas está disposta a agendar uma reunião com a Associação Paraibana de Astronomia para discutir o destino do meteorito".
O Estado diz ainda que acompanha o trâmite do PL 4471/2020 no Congresso Nacional, que estabelece que todos os meteoritos encontrados em terras brasileiras são considerados bens da União e proíbe a exportação sem prévia anuência da Agência Nacional de Mineração.
Análise da rocha
As análises do meteorito encontrado na Paraíba foram feitas através de uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Alberta (Canadá) e um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Essa foi apenas a segunda vez que um meteorito metálico foi classificado a partir de análises químicas feitas no Brasil. A primeira foi a do meteorito Conceição do Tocantins, que também foi oficializado esse ano pela Meteoritical Society.
O meteorito Nova Olinda é metálico, composto basicamente por ferro e níquel, além de outros materiais em menor concentração. Ele foi classificado como um octaedrito IIAB. Os meteoritos IIAB têm a menor concentração de níquel entre os meteoritos metálicos.
Meteoritos como o Nova Olinda se formam no núcleo metálico de seu corpo parental que, provavelmente, origina-se de um protoplaneta destruído por violento impacto.
De acordo com análise dos isótopos de meteoritos semelhantes, o impacto que teria lançado no espaço fragmentos desse núcleo protoplanetário teria ocorrido há cerca de 4,5 bilhões de anos, no período de formação do Sistema Solar. Desde então, estes fragmentos vagam pelo espaço na forma de pequenos asteroides e meteoroides e, eventualmente, alguns deles atingem a Terra.
Ainda não se sabe há quanto tempo o meteorito Nova Olinda teria caído na Terra. No entanto, o intemperismo (deterioração devido à ação do tempo) observado na rocha indica ser provável que isso tenha ocorrido há alguns milhares de anos e que o meteorito tenha permanecido enterrado por todo esse tempo, até ser encontrado pelos irmãos.
Fonte: G1_Paraíba
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