O escritor e cordelista Varneci Nascimento fala sobre sua obra lançada neste ano de 2021
Desde o ano de 2018, ao ver se desenhar o quadro político brasileiro, comecei a escrever o poema que dá nome a este livro, daí após ter terminado, juntei-o com outros títulos que já tinha escrito sobre a temática. Desde então trabalhei-os e ao senti o texto pronto, busquei uma editora que topasse fazer o lançamento. Encontrei a Alameda, que tem uma linha editorial definida e forte no campo político esquerdista.
É sempre salutar lançar uma nova obra, ainda mais discutindo temas tão relevantes, como é o caso desta, que aborda assuntos presentes no quotidiano. O Brasil, infelizmente flerta com tantas coisas perigosas e o autoritarismo é uma delas. Como a partir do golpe de 64, onde os poetas e artistas denunciavam as arbitrariedades da época, nós não podemos nos furtar do debate, sob pena de nos tornarmos cúmplices da barbárie vivida nos últimos anos. Apesar de não sermos ainda uma ditadura, fomos retirados da lista de países plenamente democráticos, por organismos internacionais. Este livro discute, clama e denuncia nas estrofes a seguir:
Pensava que este Brasil
Fosse um mar de civilismo,
Mas de repente a loucura
Misturada ao barbarismo
Trouxe a nuvem nebulosa
Do fascínio ao fascismo.
Vimos dois mil e dezoito
Com a polarização
Causar a maior fissura,
Nas bases desta nação,
Entre milhões de patrícios
Estrondosa divisão.
A maior onda de ódio
Espalhou-se abertamente
A ferocidade atrás,
A intriga pela frente
Liderada por um homem
Pusilânime, prepotente.
Esta obra bebe na tradição do cordel brasileiro, criado pelo paraibano Leandro Gomes de Barros que sempre abordou as temáticas políticas. Acredito na potência da literatura para ajudar a derrotar a onda fascista que se abateu sobre nosso país. Sob este prisma teremos muito o que discutir e a poesia é uma arma poderosa, fala ao coração, toca na alma, expõe as vísceras, provoca a sociedade, denuncia injustiças, grita a favor dos sofridos, reclama das atrocidades dos detentores do poder. Sigamos sem medo, se achegue, invista na sua formação, prestigie a cultura, aplauda este gênero literário. No livro temos poemas como este abaixo:
Se você pouco acredita,
Vá estudar o passado,
Conversar com um torturado,
Vítima daquela desdita.
Conheça a trama maldita
Por trás da pesada agrura.
Veja quanta desventura
Enfrentar tamanho monstro.
Enquanto viver, demonstro,
Nunca mais a ditadura.
Em honra de quem partiu,
Em nome de quem ficou!
Na militância escapou
Do carrasco que agrediu!
Faço por quem se feriu
Protegendo uma criatura,
Visando a nação futura
Arriscou a sua cabeça,
Para que ninguém esqueça:
Nunca mais a ditadura.
Ninguém é neutro em nada, cada decisão é uma opção política e sempre fiz questão de deixar a minha produção poética muito clara para não restar a menor dúvida de quem esta poesia serve. Nas mais de oitenta obras publicadas e com duzentos e trinta mil exemplares vendidos sempre me mantive do lado dos oprimidos.
Via: Diário do Brejo
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